Alguma coisa aconteceu no meu coração quando cruzei o portão de acesso a Inhotim. A exuberância já começa logo ali. Ou melhor, inicia antes. As plantas ornamentais da estrada que leva ao instituto vão mostrando a quem está a caminho que há um cuidado peculiar com aquele trajeto. A vegetação das cercanias tem verdes de infinitas tonalidades espalhados por todos os lados.
A esses tons se somam muitas outras cores em variadas gradações dentro do Instituto Inhotim. O lugar tem uma beleza apurada e profunda. De cara senti que algo grandioso estava por vir. Nos caminhos de calçamentos de pedras, a cada passo dado a sensação de deslumbramento só foi aumentando. Tenho a impressão que meu queixo caiu e assim ficou durante as duas visitas que fiz ao museu.
Nunca tinha ouvido nada sobre Inhotim. Não sabia da existência até dois meses antes de visitar o lugar. A descoberta foi através da minha filha que pouco antes de mim conheceu esse museu que é o maior a céu aberto no mundo. "Me senti como criança num parque de diversões", me disse. E é isso mesmo. Dá vontade de entrar em todos os lugares, galerias, interagir e brincar com todas as obras.
Museu? Jardim botânico? Afinal que lugar é esse? Localizado em Brumadinho - MG, "o Instituto Inhotim começou a ser idealizado pelo empresário mineiro *Bernardo de Mello Paz (nota complementar sobre ele no final do post) a partir de meados da década de 1980. A propriedade privada se transformou com o tempo, tornando-se um lugar singular, com um dos mais relevantes acervos de arte contemporânea do mundo e uma coleção botânica que reúne espécies raras e de todos os continentes", conforme informações do site oficial.
São três rotas identificadas por cores distintas a serem percorridas. Para ganhar tempo e poupar um pouco as pernas há disponíveis carrinhos elétricos, mas é cobrada uma taxa para esse serviço. Também dá para conhecer Inhotim a pé. No entanto para conseguir isso é preciso mais do que um dia de visita. Eu e meu companheiro compramos ingressos para dois dias. Mesmo assim e apesar da ajuda dos carrinhos não deu para vermos tudo. O que por um lado foi bom: precisaremos voltar muitas vezes :) Como os acervos tanto da natureza quanto de obras de arte estão sempre mudando, o retorno a Inhotim terá sempre novidades a serem vistas.
A visita ao museu é uma viagem inusitada que se revela aos pouquinhos num espaço permeado por jardins encantadores. Inhotim se experiencia com todos os sentidos. Algumas vezes parece que estamos acordados num sonho maluco. Há obras de arte expostas ao ar livre ao longo dos trajetos e dentro das galerias. Tudo é muito impactante, bem cuidado, organizado e limpo. Tanto requinte atrai turistas do mundo inteiro. Dá orgulho de ver algo tão bonito e grandioso em nosso país.
Interagir com a arte é uma das propostas de Inhotim. Vários trabalhos expostos têm essa pegada, como por exemplo o Forty part motet -- instalação sonora em 40 canais (acima), a View Machine, a Piscina, o som da terra no Sonic Pavilion, a obra Através, o Beam Drop (No vídeo abaixo o processo de criação. Veja como eles soltaram com a ajuda de um munck as imensas vigas de ferro dentro de um tanque de cimento) e muitos outros.
São tantas vivências sensoriais intensas que fica difícil filtrar algumas para destacar. Escolher imagens de obras e galerias para compor este post foi uma tarefa injusta, pois muita coisa boa ficou de fora. Mas quem quiser ver mais, se não puder ir pessoalmente, encontra um tour virtual no site do museu. Outra opção é passear na área externa do instituto através do google map. Também o e-book SINGULAR - CINCO OLHARES SOBRE O INHOTIM apresenta uma mostra bacana de fotos artísticas das obras. Achei ainda no youtube um vídeo bem interessante sobre esse lugar mágico.
Dentro do instituto há dois restaurantes. Ambos são excelentes, mas o Tamboril, de culinária internacional e integrado aos jardins do Inhotim, é uma experiência gastronômica imperdível apesar de um pouco cara. Com opção de buffet livre, custa R$ 79,00 por pessoa – incluindo a sobremesa. Já o Restaurante Oiticica, que tem vista para o lago, é mais barato. Serve refeições self-service pelo preço de R$ 49,00/kg. Há também dentro do Inhotim cafeteria e lanchonete.
O pessoal do instituto leva a sério a #sintainhotim. E faz questão que a experiência de cada um seja compartilhada com o maior número de pessoas, assim diferentemente de outros museus é possível fazer muitas fotos e vídeos.
Outro detalhe que achei bem bacana é a intervenção do instituto junto à comunidade local. Faz o papel de agente propulsor de desenvolvimento social, cultural e econômico. O Inhotim oferece de forma gratuita aos jovens da cidade onde está instalado diversas atividades voltadas à música, artesanato e meio ambiente. Isso tem sido fundamental na formação profissional deles, "que têm no Instituto o seu primeiro emprego e a abertura de incontáveis e inovadoras perspectivas de futuro."
Se estiver planejando uma viagem para conhecer o Inhotim sugiro que acesse a programação. Estão sempre acontecendo shows, saraus, eventos esportivos entre outros.
E quando for lá não deixe de comprar uma lembrancinha na lojinha do instituto. Os produtos são lindos, sustentáveis, criativos e originais. "Assinadas por designers reconhecidos mundialmente, as peças de cerâmica são desenvolvidas por artesãos da região de Brumadinho". Os produtos são caros, mas sempre tem algo que cabe no nosso bolso. Assim aquecemos a economia da comunidade local e ajudamos a patrocinar esse lugar incrível.
Informações de como chegar, preço de ingresso (R$ 44,00 (inteira) , horários e onde se hospedar estão no site oficial.
- Dica: às quartas-feiras a entrada é gratuita
* O empresário Bernardo de Mello Paz responde à Justiça por lavagem de dinheiro e evasão fiscal. Disponibilizo duas reportagens sobre as denuncias contra ele. Para mim, mesmo que se comprove que tenha cometido algum crime isso não diminuirá a admiração pela grandeza da obra que criou e dos projetos que está realizando.
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/12/1943102-da-vontade-de-dar-um-tiro-na-cabeca-diz-bernardo-paz-criador-de-inhotim.shtml
https://theintercept.com/2018/06/08/crimes-bernardo-paz-do-inhotim/
*Créditos das fotos que não são minhas e do Pedro ao Instituto Inhotim. Com exceção da foto da Interprétations artistiques que é de Pedro Garcia de Moura.
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