pela vidraça do jardim de inverno. Era a casa de meus avós em uma noite profunda. O medo fincado em mim. Sinto sua lâmina fria e rija.
A escuridão maior, assim como o maior medo, ganhavam corpo ao olhar lá pra cima, pra lá da escadaria, aonde os olhos perdiam a vista. Havia tudo naquele breu. Até o que eu criava.
Não via as ruínas daquilo que um dia foi um galinheiro, nem a oficina de artesanatos ou a jabuticabeira, mas sabia que estavam lá.
O mistério me acompanha desde muito cedo: sensação paradoxal do nada absoluto aos quatro anos. Aos 16 saí do corpo. Um pouco mais velha casei. Pausa.
Mas antes, lá pelos 10 anos, me
imaginava cientista. Eu iria descobrir a cura do câncer. Influência da morte de meu avô, a primeira que vivi. A primeira de um humano próximo porque meu pintinho Dug Dug foi embora antes que meu avô Serafim.
Talvez a morte da avezinha tenha relação com o “nada absoluto”, pois ocorreram na mesma época.
Meu irmão tinha um microscópio. Eu me encantava com aquelas lâminas de vidro. Acreditava que observando o comportamento das células entenderia tudo sobre as doenças e empiricamente provaria a cura de muitas delas.
Onde foi parar esse sonho?
Poderia resgatá-lo agora para olhar fundo na menor partícula subatômica de vírus e bactérias. Não, não poderia. Talvez numa próxima encarnação.
Bom que sempre há aqueles que não deixam sonhos largados à beira. Um viva aos cientistas!
Acostumei com uma sociedade falsamente segura. Ameaças sérias estavam apenas lá no tempo dos dinossauros, da pedra lascada e nas pestes da idade média ou do século passado.
Engano. A vulnerabilidade é inerente aos seres desta dimensão.
E isso é bom, humaniza.
Arte "Quantum Tunneling" de
Orr Ambrose
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