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David, Michelangelo e as dualidades

Atualizado: 8 de set. de 2019

Ao ser perguntado sobre como fizera a escultura de David, com quase 4,5 metros em um só bloco de mármore, Michelangelo disse: "foi fácil, fiquei um bom tempo olhando o mármore até nele enxergar o David. Aí, peguei o martelo e o cinzel e tirei tudo o que não era David!"



Por instantes

de olhos fechados

senti o peso

e a força do martelo

batendo no cinzel.

Bate bate bate.

Incessante.

Contundente

e ensandecido.

Arranca pedaços.

Firmes, suados,

parcos, intensos.

Transe.

Entrega.

Forma-se

o que já há.

Todo o resto

é excesso.

Camadas,

mais mais e mais

camadas inúteis

são descascadas.

O que levou

Michelangelo

a encarar David?

A estátua estava

sem a cabeça

de Golias

nas mãos.

Um David

de pupilas

dilatadas.

Tensão.

Era o momento

que antecedia

o confronto.

Talvez

os entalhes

tenham sido

em sua própria

carne. E ela

já não

era quente.

Era fria,

pedra.

Vi lascas

de mármore

sendo atiradas

ao espaço

e tochas

das trevas

iluminando,

em âmbar,

o Renascimento.



Essas memórias de quando estive diante do David me levam a pensar: debaixo de tudo que não somos, somos? Em qual momento deixamos de ser? Ou nunca deixamos? A dualidade é una? Luz e sombra. Somos. Partícula e onda. Mármore e David. Michelangelo e pedra. Martelo e cinzel.


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