ilha grande. de barco ou a pé?
Atualizado: 26 de set. de 2020
Matéria (reeditada) que fiz em 2007 para a revista Ser Médico

Cercada por mar de águas cristalinas com os mais diferentes tons entre o azul e o verde, repleta de praias selvagens, cachoeiras, lagoas, montanhas e preenchida por Mata Atlântica ainda intacta Ilha Grande tem uma beleza absurda. Para conhecer as 106 praias da ilha – 123 se a maré estiver baixa – é preciso navegar ou caminhar pelas trilhas porque carros e motos são proibidos no local.
Com 200 quilômetros quadrados é daqueles lugares vistos em documentários sobre ecologia que parecem estar muito muito distantes das grandes cidades. Mas está logo ali, perto da capital do Rio de Janeiro. Considerada Área de Proteção Ambiental abriga riquezas da fauna e flora. Pássaros como beija-flor, papagaio, pica-pau, tié, sabiá, saracura, além de macacos, esquilos, tatus, pacas, ouriços, cobras e borboletas de todas as cores podem ser vistos na região. Algumas espécies ameaçadas de extinção, como o macaco bugio, vivem (viviam) tranquilamente no local.
Não por acaso turistas do mundo inteiro vêm conhecer esse paraíso. Em um curto passeio pelas praias é possível ouvir os mais variados idiomas. A ilha que possui cerca de 7 mil moradores (IBGE/2010) chega a receber 450 mil visitantes ao ano. Entre os estrangeiros os europeus e argentinos vêm em maior número.
É impossível eleger a mais bela praia. Algumas concorrem ao título de mais bonita do Brasil. É o caso da Lopes Mendes

Ilha Grande fica a aproximadamente 21 quilômetros do continente. A partir de Angra dos Reis (RJ) pode ser acessada por barco num percurso de uma hora e meia. O principal ponto de desembarque é a Vila do Abraão, considerada a “capital da ilha” e onde vive a maioria dos moradores. Devido ao intenso tráfego marítimo essa praia é pouco adequada para banho, mas concentra grande parte das pousadas da região, restaurantes e todo o comércio local.
Por ter abrigado o presídio Cândido Mendes no passado a ilha ficou isolada por muito tempo, o que ajudou na sua preservação. É impossível eleger a mais bela praia, mas algumas certamente estão entre as mais bonitas do país. Lopes Mendes é uma delas. Com quase três quilômetros de areias brancas e muitas ondas é a preferida dos surfistas. Fica do lado de fora da ilha, em mar aberto, e para alcançá-la os barqueiros deixam os turistas na Praia do Pouso (onde há um restaurante flutuante) para de lá seguirem a pé por uma belíssima trilha de meia hora.

Caxadaço é outra cotada como a mais bela. Com apenas 10 metros de extensão está totalmente preservada. Possui águas calmas e fica escondida entre as rochas e a Mata Atlântica; era ponto de desembarque de mantimentos e escravos. Poucos barcos chegam lá. Se quiser conhecer procure uma embarcação segura porque nem sempre a navegação por fora da ilha é tranquila. O mais comum é alcançá-la por trilha. Para mais segurança há guias que acompanham grupos.

Outra atração é a Praia do Aventureiro onde um coqueiro que nasceu na horizontal fica debruçado sobre o mar. As praias da Lagoa Azul e Lagoa Verde, de águas transparentes, são paradisíacas e muito procuradas pelos visitantes. De máscara, snorkel e pés de pato os turistas boiam na superfície do mar vasculhando as areias claras do fundo em busca de tesouros da natureza.

Agito À noite a Vila do Abraão ferve! Nos bares sempre cheios ouve-se música ao vivo. Mas é na praça que o bicho pega com o forró que rola solto nos finais de semana. Nas ruas do centro turistas passeiam à vontade. No trajeto mais percorrido, entre a rua de Santana e a charmosa travessa Bouganville, há pousadas, bares, restaurantes e a pracinha da Igreja de São Sebastião, sempre iluminada.
Nesse charmoso centrinho é possível ter acesso à Internet (quando fui o celular não pegava, mas agora parece que em alguns locais há sinal), jornais, farmácias, lojinhas de roupas, artesanato e às agências de turismo que oferecem passeios de barco. Também é possível alugar lanchas, caiaques, pranchas e contratar passeios específicos para mergulho. Alguns pontos da Ilha Grande estão entre os melhores do país para essa atividade. Com um pouco de sorte os mergulhadores podem encontrar golfinhos e tartarugas. Peixinhos coloridos e até estrelas do mar são vistos facilmente. Há também opções de mergulhos a embarcações naufragadas.
História Ilha Grande tem importantes marcos históricos: ruínas e construções do período colonial e até sítios arqueológicos. “Há 10 mil anos povos marsiqueiros habitavam a ilha”, afirma o engenheiro florestal Ciro de Moura, que trabalha no local. Em 1502 os portugueses chegaram em Ipaum Guaçu – Ilha Grande, na língua dos índios antigos habitantes.


Piratas também passaram por lá. A ilha oferecia madeira para o reparo das embarcações, água em abundância e uma geografia cheia de reentrâncias estratégicas para esconderijo de barcos piratas. Entre as histórias e lendas os moradores contam que corsários saqueavam navios que partiam de Paraty rumo à Europa carregados de ouro de Minas Gerais. Uma das versões para o nome Abraão dado à vila sustenta que o pirata Abraham Cock viveu no lugar. Há também textos se referindo a ilha como entreposto de tráfico de escravos.

Memórias do Cárcere O mais marcante de Ilha Grande é o fato de ter abrigado um presídio criado em 1903 sob o nome Colônia Correcional de Dois Rios. Um pouco antes, em 1871, por ordem de Dom Pedro II foi construído o Lazareto, abrigo para a quarentena de passageiros doentes que chegavam ao Brasil. Desativado o Lazareto transformou-se em presídio político. Na era Vargas, Orígenes Lessa e Graciliano Ramos ficaram presos no local, inspirando este último a escrever Memórias do Cárcere. Posteriormente o Lazareto foi demolido e a ilha perdeu seu mais importante patrimônio histórico e cultural. Hoje restam algumas ruínas soturnas e mal conservadas que complementam o roteiro turístico do local.
Lazareto - fotos: Marcelo César Augusto Romeo Em 1940 foi construído em Dois Rios o Instituto Penal Cândido Mendes, conhecido como o Caldeirão do Diabo. No regime militar, Fernando Gabeira após ter participado do sequestro de um embaixador americano foi um dos prisioneiros do local. A convivência de presos políticos com presos comuns originou facções do crime organizado, entre elas o Comando Vermelho. Foi também na Ilha Grande que ocorreu a cinematográfica fuga de helicóptero do traficante Escadinha. Outros presos ilustres como o assaltante de banco Lúcio Flávio e o transformista Madame Satã também passaram por lá. Após a libertação Madame Satã continuou a viver na ilha até a morte. Em 1994 o presídio foi demolido.
Garrafas ao mar A primeira pousada da Ilha Grande, chamada Mar da Tranqüilidade, surgiu em 1970, ainda no tempo do presídio. (Não sei se continua lá; não achei no Booking.com). “No começo vinham apenas parentes de presos”, lembra o proprietário Elias de Melo, conhecido pela simpatia e idéias mirabolantes. Melo inventou de lançar ao mar garrafões com mapas da ilha e alguns prêmios. O primeiro encontrado foi em Saquarema, litoral do Rio de Janeiro, 20 dias após ser arremessado. O sortudo recebeu entre outras premiações uma semana de hospedagem na ilha. O empresário disse à época que “outra garrafa lançada em 2005 ainda não havia sido encontrada” (Humm, será que já encontraram?).
Com a demolição do presídio o turismo tornou-se a base da economia local. Mas por quase um século os moradores conviveram com o medo e o perigo. Muitos não gostam de falar do passado. Nilton Carvalho morador da Praia do Japariz conta que naquela época “ninguém podia sair de noite para tomar a fresca”. O pescador lembra que quatro vezes foi ameaçado por foragidos da prisão. “Eles vinham armados com pistolas ou facas e nos obrigavam a atravessá-los para o continente”.

Onde ficar Ilha Grande é acessível a quase todos os bolsos, desde hospedagem em campings e albergues até pousadas mais bacaninhas como a Sagu Mini Resort com diárias custando de R$ 650 a R$1.020 para o casal, com café da manhã incluso.
O que comer As refeições também têm preços para todos os bolsos. Há desde bem servidos “pratos feitos” até outros mais sofisticados a base de frutos do mar. Dicas atualizadas do Trip Advisor aqui. Para quem preferir almoçar em um ambiente com uma vista incrível ou aproveitar um jantar romântico à luz de velas, uma boa opção é o restaurante Reis e Magos, na enseada do Saco do Céu. Aliás o local tem esse nome porque à noite o mar espelha o céu estrelado. O cardápio inclui paellas e moquecas de frutos do mar.
Como chegar
As embarcações da Companhia Barcas S/A partem do cais no centro de Angra dos Reis fazendo o percurso Angra/Abraão/Angra. Percurso: 21 km Duração: 1h30 Horários e tarifas: http://www.grupoccr.com.br/barcas/linhas-horarios-tarifas Outras empresas para transfer http://www.objetivatour.com/servicos_pages/6 https://www.instagram.com/primetourilha/
Estacionamento em Angra dos Reis
http://www.objetivatour.com/servicos_pages/2 https://www.ilhagrande.com.br/servicos/estacionamentos-ilha-grande/
Dicas: O site www.ilhagrande.com.br é bem estruturado e tem todo tipo de informação para turistas
Leve dinheiro. Não há caixas eletrônicos ou agências bancárias na ilha e nem todos os estabelecimentos aceitam cheques e cartões bancários.
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